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sexta-feira, 16 de abril de 2010

Janelas!


Da minha janela eu observo em silêncio e admiro,
As jornadas quentes, frias, e assim-assim,
Revejo o dia  e a noite, o sol e o luar,
Revezando-se numa sincronia compassada;
Um tic-tac que não nos dá tréguas.


Da minha janela eu sinto as lamurias das pessoas quando passam,
Os sorrisos atrevidos, os risos soltos,
Mas também os gemidos dos que sofrem, dores esmurradas no seu interior
Pela vergonha de as exprimir...


Sobre o parapeito da minha janela eu debruço-me...
Para aqueles que brincando e rindo, me fazem também sorrir,
E numa fracção, me transportam ao baú onde revejo tempos de meninice,
Saudades boas...


Da minha janela vejo os meninos que se tornam homens e mulheres...
E os homens e mulheres que voltam a ser meninos.
Vejo os que partem e não voltam, mas também os que renovam as cores que vislumbro desta janela.
Apercebo-me do tempo que escava o rosto dos que fintam as tramas ardilosas da morte,
Como se caminhassem de mão dada.  


Da minha janela, vejo os gradientes coloridos que a natureza, prodigiosa, nos oferece,
Em sintonia com as estações que por nós passam, indiferentes a tudo, menos à sua prórpia determinação.


Da minha janela eu observo, os que apressadamente correndo,
Vão, de tropeção em tropeção, atrás da ilusão de uma vida,
Alicerçada noutras ilusões, ancestralmente construídas sob a digna arte de fingir
Que assim temos uma vida e acesso directo a um lugar confortável num paraíso qualquer.  
Da minha janela sinto as sombras que vagueiam escondidas na noite,
Em busca do tempo perdido na luz do dia.


Da minha janela por vezes perco-me...
No emaranhado da dialéctica do bem e do mal,
Da razão desta existência, da natureza das coisas e da nossa própria, 
E que me levam a perguntas que se perdem na sua própria compreensão, e que sem resposta permanecerão.




Da minha janela, eu ergo o meu corpo e espreguiço-me para a vida,
Que borbulha do lado de lá, chamando a mim as suas fragrâncias, as suas cores e sons! 
E se fecho a minha janela, ela mantém-se circunspectamente atenta à vida que fervilha para lá de si,
Para lá de mim e de ti, para além de tudo e de nós todos.


2 comentários:

Mª João C.Martins disse...

Que privilégio eu tenho, de fazer parte desse parapeito onde repousas os braços com que envolves a vida e tudo à tua volta, comigo tantas vezes lá dentro. Que privilégio eu tenho....

Anónimo disse...

Todos temos uma janela, o importante é saber abri-la e espreitar por ela da forma como o fazes e que tão bem aqui descreveste.

*Beijinhos